Mãe, filha e filho morreram em um intervalo de apenas uma semana em Birigui - Foto: Arquivo Pessoal
Da Redação/G1
Em um intervalo de apenas uma semana, uma família de Birigui, no interior de São Paulo, precisou lidar com a dor de enterrar três parentes por causa da Covid-19. Uma mãe e dois filhos morreram com a doença entre os dias 10 e 17 de fevereiro.
Ao G1, o auxiliar comercial Rodolfo Rodrigues Passeli de Carvalho, de 28 anos, contou que a avó Neide Passeli, de 73 anos, foi a primeira a não resistir às complicações da doença. Neide morreu no dia 10 de fevereiro.
Seis dias depois, na terça-feira, 16, a filha dela, Silvana Passeli, de 54, morreu de Covid-19. O irmão de Silvana, Deividi Cheregatto, de 33 anos, foi a óbito um dia após a morte da irmã.
“Já chorei tanto que não consigo mais. Estou revoltado. É horrível passar por isso”, desabafou Rodolfo por telefone.
Neide morreu na casa onde morava. Ela possuía obesidade e não conseguia se locomover. O exame comprovando a infecção pelo vírus foi feito depois de a morte ser registrada. Isso porque, além de a idosa não conseguir se locomover, ela sentiu apenas sintomas leves da doença.
“Minha avó faleceu por volta das 10h. Tentamos médicos para atestar o óbito, mas não conseguimos, porque ninguém estava disponível. O corpo ficou mais ou menos por oito horas dentro de casa, com a família tendo contato”, contou.
“A Vigilância Sanitária veio até em casa e conseguiu um médico. Quando fomos colocar o corpo em um saco da funerária, o zíper estourou. Eu e meu primo tivemos de enrolar o corpo em um lençol e arrastar até a urna que estava na sala. Esse foi o drama de uma senhora de 73 anos”, complementou.
Um dia antes da morte de Neide, a tia de Rodolfo foi internada em um pronto-socorro e, posteriormente, encaminhada para um leito de Unidade de Terapia Intensiva (UTI).
Como também era obesa e possuía uma doença no pulmão, os médicos optaram por não entubar Silvana.
“Eles decidiram não fazer o procedimento por conta do risco. Minha tia esperou três dias para ser levada para o hospital, mas já era tarde. Ela não resistiu e também morreu”, disse Rodolfo.
Enquanto tentava lidar com a dor de perder a tia, o auxiliar comercial recebeu a notícia de que o tio havia sido entubado, após ser internado em um hospital de Birigui.
No entanto, Rodolfo contou que Deividi passou por um drama parecido com a da irmã, já que também precisou aguardar uma vaga em unidade intensiva.
“Meu tio pesava 180 quilos. Tive que pagar um exame de tomografia, pois a máquina suporta até 150 quilos. Tentamos interná-lo no sábado (13). Conseguimos uma vaga somente na segunda-feira, 15, mas também já era tarde”, afirmou.
“Se tivessem leitos disponíveis, meus parentes poderiam ter sobrevivido. Eles tinham problemas, mas outras pessoas sobreviveram. Um dia para quem está com Covid-19 é muita coisa. Pode fazer a diferença”, complementou.
Ao G1, Rodolfo ainda relatou que fez dívidas para pagar os medicamentos e enterrar os três familiares em um cemitério de Birigui.
“Fico vendo essa briga política, enquanto a família pobre está morrendo. Estava preocupado em enterrar meu tio e tinha uma chácara ‘bombando’ na frente da minha casa. As pessoas estão preocupadas em festejar. Espero que ninguém passe por isso”, disse.