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POR QUE AS EMPRESAS INSISTEM NA CONTRATAÇÃO POR INDICAÇÃO EM DETRIMENTO DA COMPETÊNCIA?

POR QUE AS EMPRESAS INSISTEM NA CONTRATAÇÃO POR INDICAÇÃO EM DETRIMENTO DA COMPETÊNCIA?

Por André Marcelo Lima Pereira, psicólogo

Por André Marcelo Lima Pereira, psicólogo

Publicada há 3 anos

As organizações conhecem a importância de seus colaboradores para ter sucesso e o zelo necessário quando se trata de recrutar e selecionar os profissionais que vão atuar na empresa: é fundamental ter as pessoas certas nas funções certas para se construírem equipes de alto desempenho, por isso, as organizações devem saber investir no recrutamento e seleção de pessoal. Atrair novos talentos é objetivo específico de um processo de recrutamento, que deve oferecer para seleção um número suficiente de candidatos (ROSA; BAGINSKI, 2021).

Chiavenato (2004, p. 55) aduz que “recrutamento é um conjunto de técnicas e procedimentos que visa atrair candidatos potencialmente qualificados e capazes de ocupar cargos dentro da organização”. Para Chiavenato (2009), as pessoas, seus conhecimentos e suas habilidades são a principal “ferramenta” e a mais importante base para a organização. Assim, “selecionar a pessoa adequada, encaminhando-a, naturalmente, para o lugar apropriado, significa a decorrência de um processo de seleção eficaz”, além disso, “agrega valores para os objetivos da empresa e demonstra compromisso com o desempenho que o profissional virá a ter no cargo” (SOUZA; PAIXÃO; SOUZA, 2011, p. 46). O sucesso de uma organização se vincula diretamente às habilidades técnicas, interpessoais e intrapessoais das pessoas que nela atuam, isto é, seus conhecimentos, habilidades, aptidões e seu relacionamento interpessoal. (PONTELO; CRUZ, 2010). 

São conhecidas, basicamente, duas metodologias para seleção de pessoal: processos por indicação (interna ou externa – prática comum no mercado de trabalho) e por competência, cada qual com vantagens e desvantagens. A seleção busca oferecer à organização profissional adequado à continuidade e ao sucesso de suas atividades (CHIAVENATO, 2009).

A “indicação, seja interna à organização, ou via redes sociais, permite que o avaliador tenha um conhecimento prévio do perfil do candidato” (D’ÁVILA; RÉGIS; OLIVEIRA, 2010, p. 70). Embora seja uma metodologia facilitadora do processo, falhas operacionais comprometem a qualidade da seleção, tais como pular etapas importantes, omitir ou ignorar dados, priorizar a agilidade (e não as habilidades) e negligenciar critérios de indicação.

Na indicação (que nem sempre condiz com os objetivos da organização, quando se trata de indicação personalística), a ética deveria estar presente acima de tudo (D’ÁVILA; RÉGIS; OLIVEIRA, 2010). Nessa metodologia, um colaborador ou um indivíduo emprestam sua credibilidade ao candidato indicado, muitas vezes sem que a empresa conheça as habilidades ou competências necessárias do candidato para exercer determinada função, o que pode comprometer a reputação de quem indica e a própria reputação do indicado, gerando prejuízos à organização. Mesmo sem se considerarem privilégios na seleção, outras questões podem deixar de ser avaliadas no processo de indicação, ensejando inviabilizar todo o processo: compatibilidade de valores, capacitação técnica, perfil individual, habilidades especiais, experiências profissionais e comportamentais, pressão pela recomendação, dentre outras (D’ÁVILA; RÉGIS; OLIVEIRA, 2010; FLORÊNCIO; LOUREIRO, 2012).

Por outro lado, o processo de seleção por competência busca “identificar, nos candidatos, as competências necessárias para assumir o cargo em aberto e diminuir os riscos da contratação, ou seja, os riscos de o candidato não se ajustar ao cargo e à cultura da empresa” (GUIMARÃES; ARIEIRA, 2005, p. 213). Esta metodologia objetiva o enquadramento do perfil, postura, experiência, expectativa salarial, potencial de crescimento, potencial intelectual e emocional, habilidade de comunicação, capacidade de liderança e de trabalho em grupo, respostas comportamentais a situações diversas e tomadas de decisão. É o processo que busca o candidato mais adequado ao cargo, principalmente diante da competitividade do mercado contemporâneo que pressiona as empresas para uma seleção de profissionais que ofereçam valores e alavanquem a posição da empresa para um ambiente econômico de excelência. Neste cenário, os colaboradores não são meros funcionários, mas parceiros da organização (GUIMARÃES; ARIEIRA, 2005).

Nessa perspectiva, “lidar com as pessoas deixou de ser um problema e passou a ser a solução para as organizações. Deixou de ser um desafio e passou a ser vantagem competitiva [ou desempenho superior] para as organizações bem-sucedidas” (CHIAVENATO, 1999, p. 34). O lado humano passou a ser valorizado no processo de seleção de pessoas que se enquadrem na visão da empresa – seleção que deve prover a organização de talentos e competências necessários à sua continuidade e sucesso em um contexto altamente competitivo (CHIAVENATO, 2009).

Nos tempos atuais, o funcionário não é visto apenas como um mero executor de tarefas ou funções, mas como o “maior influenciador do desempenho econômico, e a parte principal de qualquer organização. O diferencial que é proporcionado pelos funcionários faz com que a empresa consiga sobreviver e se destacar no mercado” cada vez mais “competitivo e instável” (FLORÊNCIO; LOUREIRO, 2012, p. 1).

A competência refere um conjunto de habilidades, conhecimentos e atitudes que contribuem para uma atuação de destaque e de excelência em determinados contextos: capacidade empreendedora e de trabalhar sob pressão, boa comunicação, criatividade e inovação, cultura da qualidade, capacidade negocial, liderança e comportamentos adequados, planejamento e organização, tomada de decisão e visão sistêmica. Faz-se mister, pois, que a seleção se concentre em competências de forma a optar pelo colaborador que corresponda ao perfil pretendido pela empresa. Um perfil de competências e uma boa avaliação comportamental podem inferir as competências, habilidades e atitudes do candidato ideal (BAYLÃO; ROCHA, 2014).

Logo, diante das realidades organizacionais contemporâneas cada vez mais exigentes e competitivas, tem-se procurado liberar a criatividade e a inovação através da adoção de medidas que busquem avaliar o potencial e a capacidade das pessoas, ou seja, o quanto podem contribuir como capital humano para a empresa. Assim, uma indicação pode não satisfazer determinadas necessidades da empresa, abre espaço a dúvidas sobre as habilidades técnicas e comportamentos interpessoais do colaborador indicado e reflexos negativos sobre quem indicou e sobre a própria empresa (BAYLÃO; ROCHA, 2014). 

A seleção por competência avalia a pessoa holisticamente, abordando três pilares: conhecimento (o saber adquirido no decorrer da vida), habilidade – o saber fazer, ou seja, experiências e domínio sobre alguma atividade, e atitude – características pessoais que levam o indivíduo a praticar ou não o que se tem por conhecimento e habilidade (FERREIRA; SOEIRA, 2013).

As empresas empregar a melhor metodologia para seleção do seu pessoal. Tem-se por certo que a seleção por competência, embora seja mais complexa e exija maior disponibilidade de tempo para sua execução, destaca-se como a mais condizente para atender as exigências e demandas atuais das organizações e permite oferecer garantias mais realísticas de uma escolha de excelência.


Psicólogo André Marcelo Lima Pereira

Email: andremarcelopsicologo@hotmail.com


REFERÊNCIAS

BAYLÃO, A. L. S.; ROCHA, A. P. S. A importância do processo de recrutamento e seleção de pessoal na organização empresarial. In: XI Simpósio de Excelência em Gestão e Tecnologia, de 22 a 24 de outubro de 2014. Anais... EDERJ/FACSUM/ UNITAU, 2014. 15 p.

CHIAVENATO, I. Gestão de pessoas. 1. ed. Rio de Janeiro: Campus Editora, 1999.

______. Recursos humanos: o capital humano das organizações: São Paulo, Atlas: 2004.


______. Planejamento, recrutamento e seleção de pessoal: como agregar talentos à empresa. 7. ed. Barueri, SP.: Manole, 2009.


______. Gestão de pessoas: o novo papel dos recursos humanos nas organizações. 3.ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2010.

D’ÁVILA, G. C.; RÉGIS, H. P.; OLIVEIRA, L. M. B. Redes sociais e indicações para processos de recrutamento e seleção: uma análise pela perspectiva dos candidatos. Revista Psicologia: Organizações e Trabalho, v. 10, n. 1, p. 65-68, jan./jun. 2010.

FERREIRA, S. F.; SOEIRA, F, S. A importância do recrutamento e seleção de pessoas em uma empresa de pequeno porte do setor de móveis. Revista Eletrônica “Diálogos Acadêmicos”, v. 4, n. 1, p. 46-56, jan./abr. 2013.

FLORÊNCIO, J. A.; LOUREIRO, T. J. A. O recrutamento de pessoas nas empresas do comércio varejista de vestuários de Santo Antônio/RN. In: VII CONNEPI – Congresso Norte Nordeste de Pesquisa e Inovação, de 19 a 21 de outubro de 2012, Palmas, Tocantins, 2012. 7 p.

GUIMARÃES, M. F.; ARIEIRA, J. O. O processo de recrutamento e seleção como uma ferramenta de gestão. Rev. Ciên. Empresariais da UNIPAR, Toledo, v. 6, n. 2, p. 203-214, jul./dez. 2005.

PONTELO, J.; CRUZ, L. Gestão de pessoas: manual de rotinas trabalhistas. 3. ed. Brasília, DF: SENAC/DF, 2010.

ROSA, L. G.; BAGINSKI, L. Recrutamento e seleção: a importância da organização de gestão de pessoas. Revista Científica Multidisciplinar Núcleo do Conhecimento, ano 6, v. 6, n. 03, p. 120-141, mar. 2021.

SANTOS, E. A. P.; CRUZ, M. T. S. (Orgs.). Gestão de pessoas no século XXI: desafios e tendências para além de modismos. São Paulo: Tiki Books: PUC-SP/ PIPEq, 2019. 234 p.

SOUZA, D.; PAIXÃO, C. R.; SOUZA, E. A. B. Benefícios e dificuldades encontradas no processo de seleção de pessoas: uma análise do modelo de seleção por competências, sob a ótica de profissionais da área de gestão de pessoas. Gestão & Regionalidade, v. 27, n 80, p. 45-58, maio/ago. 2011. 

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