Na década de 90, o assessor do candidato Bill Clinton à presidência americana, James Carville, alcunhou no comitê a expressão "É a economia, estúpido!". A intenção foi chamar a atenção para um fato relevante das campanhas presidenciais e do comportamento do eleitor. A economia e a situação de vida de quem vota, importa na hora das urnas.
O Brasil não é diferente de outras democracias do mundo. O desemprego, o custo de vida, a dificuldade de conseguir encaminhar os filhos, de pagar por tratamento de saúde etc., são uns dos principais elementos na escolha por meio do voto. Os estudos em ciência política mostram que o componente ideológico tem peso menor no comportamento do eleitor do que supõe o senso comum. O eleitor mediano não tem escolha ideológica, mas pragmática e associada à sua realidade corrente e às expectativas de curto prazo. É esse eleitor que decide as eleições.
Pode-se questionar se isso deveria ser assim ou não, mas o fato é que assim se comporta o eleitor. Alguns autores argumentam sobre a "miopia do eleitor" ou sobre a racionalidade limitada, entretanto, o que se observa é o custo de se obter informação qualificada. Reunir informação para tomada de decisão e analisá-la custa e toma tempo - e tempo é dinheiro. O eleitor mediano, portanto, faz o melhor possível com os recursos e tempo disponíveis.
Os políticos sabendo disso, sem muita teorização, mas observando a realidade prática, conseguem explorar esse comportamento. Não é à toa que nos dois últimos anos de mandato, especialmente no ano do pleito, "pacotes de bondade" são feitos pelos incumbentes - candidatos à reeleição ou que visam fazer seu sucessor.
Daí a teoria do ciclo político-eleitoral das políticas econômicas. Nos dois últimos anos próximos às eleições, a despesa pública aumenta e/ou a política monetária corre frouxa (juros mais baixos) ou a taxa de câmbio é artificialmente valorizada. O motivo: produzir a sensação de que a vida material e financeira para o eleitor mediano está melhor e, portanto, o incumbente merece seu voto.
O problema é que essa estratégia tem custos econômicos e sociais elevados. A bonança dos dois últimos anos de mandato é seguida de apertos e ajustes nos dois primeiros anos do novo termo. Obras inauguradas às pressas, incentivos tributários ou programas sociais mais generosos aumentam o déficit e, por consequência, o endividamento público e causam necessidade de ajuste fiscal. A política monetária frouxa resultará em inflação e carestia, necessitando de taxas de juros mais elevadas para combatê-las. Câmbio artificialmente valorizado implica perda de reservas e necessidades de desvalorizações posteriores. Enfim, "acelerar para ter que pisar no freio", ou o "voo de galinha".
No Brasil, há vários episódios similares em nossa democracia recente. Na tentativa de reeleição, FHC manteve, até o limite das eleições de 1998, o real valorizado ante o dólar. O resultado foi uma grave crise cambial no início do novo mandato em 1999, como decorrência da queima das reservas internacionais para sustentar um real artificialmente forte.
Lula, para eleger a sucessora, lança mão do Plano de Aceleração do Crescimento e afrouxa as metas de superávit primário (que depois nunca mais ocorrerá). Dilma leva a ideia de estímulo fiscal e política fiscal expansionista até sua reeleição e tem, em seu segundo mandato, a pior recessão enfrentada pelo país desde 1930, inflação elevada, desemprego e desequilíbrio fiscal.
Recentemente, o governo de Jair Bolsonaro, a despeito do discurso liberal efetuado pelo seu ministro Paulo Guedes, usa a política fiscal (legitimada por um suposto estado de "calamidade pública") para ofertar programa de transferência de renda "turbinado" (Auxílio-Brasil de R$ 600,00 até dezembro), transferências para caminhoneiro e taxistas (auxílio-caminhoneiro e auxílio-taxista de R$ 1 mil mensais até dezembro) dentre outras medidas populares (ou populistas).
Fica claro nesses exemplos que não há esquerda ou direita, apenas a lógica político-eleitoral ferrenha, dura e crua. Quem paga a conta? O povo, principalmente os mais pobres. O país precisa de previsibilidade, estabilidade e inclusão produtiva e social advinda de crescimento orgânico e endógeno que não dependa de planos ou medidas populistas e mirabolantes.
Vladimir Fernandes Maciel é Coordenador do Centro Mackenzie de Liberdade Econômica e professor do Programa de Pós-graduação em Economia e Mercados da Universidade Presbiteriana Mackenzie.