João Leonel
Wilson Granella e a esposa Val
Recentemente, em sessão solene, a Câmara Municipal outorgou o "Título de Cidadão Fernandopolense" a Wilson Granella, funcionário público e mantenedor da Associação Filantrópica Henri Pestalozzi, sempre ao lado de sua esposa Valdelice Maria Gonçalves, ex-professora de Química e ex-diretora de escola, que também já comandou a APEOESP regional. Granella nasceu em maio de 1956 na cidade de Cedral, e com apenas três meses de vida chegou com a mãe para morar no sítio do avô, próximo ao córrego do Gatão, em Fernandópolis. Fotógrafo profissional, atualmente trabalha no Instituto de Criminalística da Polícia Técnico-Científica do Estado de São Paulo. Sua trajetória como escritor, à luz do espiritismo - ele é, por essência, um espiritualista - começou aos 19 anos de idade, em 1975, ao lançar seu primeiro livro, "O Totem do Amor". Em entrevista especial no recanto de paz do horto da Henri Pestalozzi, o homenageado pelo Legislativo dividiu seu "Título de Cidadão" com a esposa. "Ela é natural de Monte Aprazível, minha companheira e também responsável pela Associação Filantrópica, então, aceito somente 50% desta honraria, que muito me orgulha, mas dedico 50% à 'Dona Val', por justiça", declarou. Acompanhe a seguir, na íntegra, a entrevista exclusiva com Granella.
O jornalista João Leonel conversou com Granella em um descontraído bate-papo
O EXTRA: Conte-nos sobre suas atividades profissionais. Também se destacou como jornalista na cidade, em quais veículos de comunicação atuou?
GRANELLA: Bom, meu primeiro emprego foi de 'office-boy' no Escritório São Paulo. O Valcir e o Rubens me deram essa oportunidade, gostaria de registrar um grande abraço a eles. Eu tinha aquele carteirinha verde de trabalho, era menor de idade. Depois passei pela WTW, Verdiesel, fui cobrador de ônibus na Viação Guerra. Com o João e o Jayme Leone fui repórter no "Fernandópolis Jornal", e, em rádio, trabalhei com o Saches na Rádio Educadora, e também na Rádio Difusora, à época sob comando da 'Família' Ribeiro.
O EXTRA:Como surgiu a Henri Pestalozzi?
GRANELLA:Em 1989, neste mesmo local (Rua Itália, nº 88, Parque das Nações), tínhamos a Associação Espírita "Missionários da Luz", em atividade até hoje. Aqui era um buraco com muito carrapicho, e só. Ainda funcionava o Tanino, e nesta área da cidade já encontrávamos um bolsão de dificuldades, uma população com muitas necessidades. Nessa época, a Val e eu nos conhecemos. Eu era fotógrafo, ela na APEOESP. Conversamos muito e partimos para buscar "um canto". As circunstâncias nos trouxeram aqui, e decidimos fundar a Associação Filantrópica Henri Pestalozzi. Começamos com projetos como a "Sopa Fraterna", chegamos a servir 500 pratos de sopa aos sábados, o "S.O.S. Bombeiros", e hoje temos o PETI - Programa de Erradicação do Trabalho Infantil.
O EXTRA:Quantas crianças já passaram pela Pestalozzi desde então?
GRANELLA:Atualmente temos cerca de 40 crianças assistidas, já chegamos acolher 100 crianças e adolescentes. Não tenho como garantir um número exato, mas, com certeza, mais de mil crianças já passaram por aqui.
O EXTRA:O que todo esse trabalho assistencial mudou em sua vida ?
GRANELLA:Me tornou um pouco mais humano, tolerante. Quando você acha que sua dor é muito grande, chegam casos aqui que acabam nos surpreendendo, nos ensinando. A vida passa muito rápido, uma década se vai e você vê que fez muito pouco. Junto com a Val aqui, dentro de nossas limitadas condições financeiras mensais, não perca de vista que somos funcionários públicos, tentamos dar um retorno à sociedade que nos acolheu, pois nós dois viemos de fora, e, hoje, somos "bairristas". E aqui tenho um aprendizado diário, ainda mais na companhia das crianças (neste momento vale um registro: crianças que não desgrudavam de Granella, ou melhor, do "Tio", mesmo durante um arremate com cimento que ele fazia num canto da área verde da entidade, preparando um caminho para a água das chuvas escorrer sem provocar estragos ou buracos). Ao ar livre, onde elas não ficam fechadas em quatro paredes, pois já passam bastante tempo na escola. Mas temos dança, aulas no computador, futebol. Além do almoço. Em todos os momentos acabamos assimilando um novo aprendizado.
O EXTRA:Já que citou o almoço, e também pelas dificuldades que dois funcionários públicos encontram para manter todo esse aparato assistencial, o que mais necessitam em doações e ajuda?
GRANELLA:Alimentos: arroz, feijão, leite, açúcar. Temos nossa "Casa de Costura" Benedita Fernandes, com trabalhos em patchwork, linha cama, mesa e banho. Há cinco anos nossa Padaria "Café Caipira" - estamos finalizando a construção de um novo local para instalá-la - faz pães caseiros, rosquinhas, fatias húngaras, esfirras de ricota e frango, e doces também, todas as terças-feiras, na hora do almoço começam a sair as primeiras fornadas. Vendemos toda essa produção própria, através de ajuda voluntária, para levantar recursos e fazer frente às despesas mensais.
O EXTRA:E qual foi a principal motivação para fundar a associação?
GRANELLA:Desde muito garoto convivi com adultos que fizeram alguma ação social. Seu Raimundo, com a Casa da Criança Auta de Souza, no Jardim Araguaia, o Zuza, com a Associação Antialcoólica, vi o surgimento do Racionalismo Cristão. A Henri Pestalozzi é o legado desta convivência, talvez tenha sido a mensagem subliminar que recebi dessa experiência humana que tive. Isso tudo fortaleceu minha iniciativa de "mudar de vida". Alguns amigos até me falam que mudei demais, que mudei muito, mas não me tornei um eremita, não me isolei.
O EXTRA:Qual o peso da Pestalozzi no Título de Cidadão Fernandopolense que recebeu?
GRANELLA:Acho que é total. Mesmo com o tempo em que atuei no jornalismo, pelos meus livros. Pode ser também o conjunto de tudo isso. Mas a Pestalozzi é significativa para esse Título.
O EXTRA:E o "legado" da Pestalozzi?
GRANELLA:É como você estar no campo com um alforje de sementes e vai espalhando. O tempo se encarrega de ir transformando, fazendo surgir.
*Nota da Redação: A Associação Filantrópica Henri Pestalozzi, como já citado, está localizada à Rua Itália, nº 88, Parque das Nações. Os telefones de contato são: (17) 98111 7392 - celular da Val; e (17) 98174 7896, celular do Granella. A entidade sobrevive com verbas de emendas parlamentares, doações e recursos próprios. Toda ajuda "é sempre bem-vinda", enfatizam seus mantenedores.