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Jovem fotógrafa vivencia a triste realidade dos índios do Brasil

Jovem fotógrafa vivencia a triste realidade dos índios do Brasil

Tabatha Fernandes relata momentos emocionantes que presenciou na reserva indígena de Dourados

Tabatha Fernandes relata momentos emocionantes que presenciou na reserva indígena de Dourados

Publicada há 7 anos

Por Lívia Caldeira


Violência, drogas e descaso são os termos que melhor podem descrever a triste realidade em que muitas tribos indígenas brasileiras se encontram atualmente.  É o caso da reserva indígena de Dourados, segunda maior do país, localizada no Estado do Mato Grosso do Sul, onde vivem índios guaranis terenas e kaiowás, que estão entre os povos mais ameaçados do Brasil.


Segundo dados do Ministério Público Federal, a taxa de homicídio entre os indígenas do estado é quatro vezes maior que a média nacional, superior a de um país considerado extremamente violento como o Iraque. Tal dado nos permite compreender a gravidade da situação desses índios.


A estudante e fotógrafa Tábatha Fernandes, de 19 anos, participou junto a outros universitários de Fernandópolis e região de uma experiência única: a Missa Univida - uma ação solidária que conta com a ajuda de voluntários para arrecadar mantimentos a essas tribos.


Na ocasião, a jovem pôde sentir na pele como realmente vivem esses índios e presenciar relatos emocionantes de famílias que foram retiradas de suas áreas de origem e levadas para lá. A Reportagem de “O Extra.net” conferiu todos os detalhes dessa impressionante experiência relatada pela estudante.


O EXTRA: O que é a missão “Univida” e como surgiu essa bela iniciativa?

TABATHA: A ideia surgiu com a inciativa do padre de Jales Eduardo Lima. Todo ano ele leva estudantes universitários da região para o que ele chama de “processo de humanização”.  Arrecadamos vários mantimentos como alimentos, remédios e roupas para levar aos índios e contribuímos também com nossos conhecimentos práticos (em enfermagem, odontologia, fisioterapia, etc). O objetivo é socorrer as necessidades mais permanentes de saúde, higiene, alimentação, agasalho e conforto humano. São mais de 200 voluntários que vão em cada missão e 7 faculdades da região envolvidas.


O EXTRA: Como vivem os índios hoje? A realidade vivenciada por você nessa experiência mudou a sua visão sobre eles?

TABATHA:Em apenas duas semanas consegui mudar completamente a minha visão sobre como de fato vive um índio. Hoje em dia eles vivem em uma maneira completamente diversa de como aprendemos na escola. Eles não moram em ocas, não fazem a dança da chuva, não dormem pendurados em redes e muito menos andam pelados. A triste realidade deles é muito diferente desta vida saudável que muitos imaginam que eles levam. Infelizmente, a situação nesta reserva de Dourados é muito crítica, estão em uma situação muito precária. Falta tudo, comida, remédio, escola, médicos, entre outras necessidades básicas, inclusive carinho e atenção.


O EXTRA: De que maneira vocês universitários ajudam os indígenas durante a missão?

TABATHA: Cada universitário ajuda os indígenas de acordo com a sua área, com aquilo que está estudando. Mas acho que a melhor maneira de conseguir ajudá-los é através de carinho, atenção, um abraço, uma conversa... As crianças, principalmente, são muito carentes nesse sentido. Eles se sentem isolados do mundo, não têm contato com muitas pessoas de fora e por isso um simples gesto de afeto pode representar muito. Além disso, é muito gratificante para nós da missão receber o sorriso e a alegria deles como resposta.


O EXTRA: Na sua opinião, quais os principais problemas enfrentados por eles?

TABATHA: Eu diria a pobreza em geral. Muitos chegam a passar fome mesmo. O fato de eles serem excluídos socialmente também é um grande problema. A expectativa de encontrar uma vida melhor é o desejo de centenas de jovens que vivem nas aldeias de Dourados, o que gera uma certa frustração neles. Prostituição, drogas e violência também é comum, até porque, lá não existe fiscalização ou policiamento, é uma terra sem leis. 


O EXTRA: O que essa experiência mudou na sua vida?

TABATHA: Eu voltei com um olhar muito diferente em relação aos índios, diferente do que eu via na TV, do que eu aprendi no colégio. Voltei também com o coração partido, porque mesmo ajudando, nós da missão não conseguimos resolver todos os problemas enfrentados por eles e isso é um pouco revoltante. Mas é uma experiência incrível, fez de mim, sem dúvidas, uma pessoa muito melhor. A princípio, eu fui com o objetivo de retratar, através das minhas fotos, a realidades dessa tribos, além de ajudar doando mantimentos. Mas o que vivi lá, foi muito mais do que isso, quem mais ganhou com essa experiência fui eu.


“Me apeguei muito a essa indiazinha”



Roupas, alimentos e medicamentos foram doados pela equipe de missionários.  



Jovem indígena da reserva de Dourados 



A fotógrafa pôde observar de perto alguns rituais que ainda preservam a cultura e a identidade indígena.



Registro da alegria das crianças ao receberem doações de alimentos. 



A Reserva indígena de Dourados é comparada com favelas urbanas.



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