Edson Marcelino

Júlio César, Gregório, Carnaval e o Ano Novo Brasileiro

Júlio César, Gregório, Carnaval e o Ano Novo Brasileiro

Por Edson Marcelino Augusto - Gestor Público e Jornalista

Por Edson Marcelino Augusto - Gestor Público e Jornalista

Publicada há 8 anos

Você já se perguntou porquê SETembro é o mês 9, OUTubro (de origem do Latim “octo”, oito é o mês 10? NOVembro é o mês 11 e DEZembro é o mês 12? Nosso atual calendário teve origem na Roma Antiga, onde alguns séculos antes da Era Cristã tinha seu primeiro calendário romano, criado no século VII a.C. Os anos tinham 304 dias e eram divididos em dez meses. Isto explica o nome dos meses na pergunta anterior. Os primeiros seis meses tinham seus nomes em homenagens a deuses e festividades romanas e os seguintes de acordo com sua ordem numérica. Portanto, “julho” e “agosto” foram posteriormente rebatizados em homenagem a Júlio César e seu sobrinho e sucessor, César Augusto (Caio Julio Cesar Otaviano Augusto, 63 a.C.-14 d.C.). Sendo assim, o ano começava em março e terminava em dezembro. As mudanças não pararam por aí. 


Passado algum tempo foi notado que o calendário ainda não estava correto. Este sistema foi criando uma defasagem em relação ao ano solar que tem 365,25 dias. Que só foi corrigida em 46 a.C (conhecido como ano da confusão), no qual foi necessário criar um ano com 15 meses e 455 dias para compensar a defasagem). Esta nova tentativa de acertar o calendário, feita por Julio Cesar, introduziu ainda mais dois meses no início do ano, Janeiro e Fevereiro, baseado em um modelo utilizado pelos egípcios, sem alterar os nomes dos demais meses. No entanto, ainda persistiu a defasagem entre o ano do calendário e o ano natural, sendo que durante a Idade Média foram várias as tentativas de resolvê-la. O Concílio de Trento, realizado em 1545, decidiu pelas alterações no calendário da Igreja, cabendo a Gregório XIII instituir o novo calendário, que passaria a se chamar “calendário gregoriano” em sua homenagem.


 Para adequar a data da Páscoa com o equinócio de primavera no Hemisfério Norte, o papa Gregório XIII ordenou que o dia seguinte a 4 de outubro de 1582 passasse a ser o dia 15 de outubro. Um salto de 11 dias! Para diminuir a defasagem, os dias bissextos não ocorreriam nos anos centenários (terminados em 00), a não ser que fossem divisíveis de forma exata por 400. Este sim, o calendário gregoriano é o que o mundo atual utiliza até hoje. Os últimos países a adotarem o calendário gregoriano na Europa foram a Grécia, em 1923, e a Turquia, em 1926. 


E O BRASIL? O Brasil ironicamente parece ser o único pais do mundo que faz frente à história. Esquece ou nem se lembra de Gregório XIII e que não gostou nada das “modernidades” e tentativas de Júlio César, Caio Augusto, imperador Numa Pompílio entre outros que tentaram ajustar o calendário anual. O Brasil, que utiliza o Calendário Gregoriano, “esqueceu” de introduzi-lo em sua cultura, e pelo contrário, parece que ainda usa o calendário Romano, antes de sua primeira reforma, onde vocês leram aqui que começava em março e terminava em dezembro. E não é assim? De janeiro ao final de fevereiro, a grande maioria dos brasileiros parece não pensar, não trabalhar e não produzir nada. O ano começa depois do Carnaval. E assim, em nome desta “tradição cultural”, se produz tão pouco e temos “orgulho” em dizer que o ano só começa em março. As grandes mudanças começam em março. As grandes decisões pessoais parecem ser apenas em março.


Há quem leve tão ao pé da letra a frase “o ano começa depois do Carnaval” que li recentemente um artigo, no qual seu autor relatava que uma amiga de faculdade “...evitava até mesmo procurar emprego antes do carnaval, para não correr o risco de ter que passar o carnaval trabalhando sem poder viajar”. “Pode isso, Arnaldo?” A regra é clara! Mas parece que a maioria está cega ao ponto de reclamar todo dia do preço da gasolina, em média R$ 3,80 (e está caro), mas não se importa em pagar R$ 7,00 em uma lata de cerveja de 350ml que nem sempre é da melhor marca do mercado ou da que satisfaz seu paladar. Acorda cansado todas as segundas-feiras, mas aguenta, sem reclamar, quatro dias de folia. Em alguns estados, mais de 30 dias de folia, incluindo preparação, pré-carnaval, carnaval, pós carnaval e outras extensões alusivas à festa. Sendo assim, convido todos a refletir e repensar as comemorações, feriados prolongados, promessas de ano novo e tudo mais. E a propósito, “Feliz Ano Novo Romano” a quem discorda ou concorda em partes com esta reflexão e está atrasado no tempo há 2.717 anos.

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