Acordo todos os dias com uma missão clara: defender e fortalecer a indústria do Noroeste Paulista. É com esse compromisso que, como diretora-titular do Ciesp Noroeste Paulista, encaro as notícias recentes vindas dos Estados Unidos com preocupação e atenção redobrada.
Desde que o presidente republicano Donald Trump voltou ao poder, temos assistido a uma escalada agressiva no aumento das tarifas de importação. O chamado “tarifaço” atinge não só a China, mas todos os países que mantêm relações comerciais com os EUA, inclusive o Brasil. Para a nossa região, a alíquota média de 10% imposta sobre nossos produtos pode parecer modesta à primeira vista. No entanto, os reflexos são complexos e, muitas vezes, indiretos.
Nosso principal parceiro comercial em 2024 foi a China, seguida por Turquia e Indonésia. Exportamos especialmente produtos como açúcares, carnes e preparações alimentícias. Os Estados Unidos não são nosso maior comprador, mas a instabilidade provocada por essas tarifas muda o jogo mundial. Quando uma potência como os EUA movimenta o tabuleiro, todos os outros países — e todas as nossas empresas – precisam se reorganizar.
O que me preocupa não é apenas o aumento direto das tarifas, mas o efeito dominó. Essa política protecionista já está gerando inflação nos EUA e pode levar a uma estagnação global — quando há estagnação econômica combinada com inflação alta. Isso enfraquece mercados, reduz a confiança dos consumidores e desorganiza cadeias produtivas inteiras, inclusive as que envolvem empresas aqui de Rio Preto e região.
É por isso que o Ciesp Noroeste Paulista já está em campo. Estamos oferecendo consultoria, capacitação e informações estratégicas para que as indústrias da nossa região não fiquem à deriva nesse novo cenário. Temos de agir com estratégia e serenidade.
A diversificação dos mercados é uma alternativa real. Precisamos reduzir nossa dependência de poucos países e buscar novas oportunidades, inclusive fortalecendo os laços com parceiros que hoje já compram de nós — como a China e a Turquia, mas também explorando mercados na África e América Latina.
Recomendo, com clareza, que nossas indústrias busquem inovação, melhorias logísticas e alternativas fiscais. Isso passa também por uma articulação forte com o governo federal. O CIESP já está em diálogo constante com autoridades em Brasília. Precisamos de políticas públicas que ajudem a mitigar os impactos e incentivem acordos comerciais mais equilibrados.
O cenário é difícil, mas também é cheio de oportunidades. Como bem destacou o presidente estadual do Ciesp, Rafael Cervone, alguns países foram taxados com tarifas muito maiores do que o Brasil. Isso pode nos abrir portas em mercados que buscarão novos fornecedores.
Por fim, minha visão sobre as questões nacionais é que precisamos de uma política econômica que priorize a competitividade industrial. O chamado “Custo Brasil” é um entrave real, que agora se torna ainda mais prejudicial com as mudanças no comércio global. Precisamos de reformas urgentes — fiscais, logísticas e regulatórias — que libertem a indústria do excesso de burocracia e dos altos encargos.
Falo com a convicção de quem está todos os dias ao lado do setor produtivo. Nosso papel, como entidade, é dar apoio, orientação e força para que nossas empresas possam seguir em frente — mesmo com a maré agitada.
Aldina Clarete D'Amico é a diretora-titular do CIESP Noroeste Paulista
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