Aprendi desde muito cedo que promessa é dívida. Então, conforme o prometido nesta coluna, hoje vamos para mais um mergulho no nosso túnel do tempo, na época que a televisão chegou em Fernandópolis. Para a moçada mais nova, que chegou neste mundo na época da TV em cores, isso pode parecer uma bobagem. Para a geração digital dos dias atuais, além de incompreensível, pode parecer ridículo falar dessas coisas. Mas para nós que já dobramos o Cabo da Boa Esperança, a coisa é séria. Afinal, a chegada dos primeiros sinais de TV por estas bandas foi um grande acontecimento.
Primeiro porque não era todo mundo que podia comprar um luxuoso e moderno aparelho de TV, Porque eram muito caros. Não importava se a marca fosse Colorado RQ, Phillips, Philco, Telefunken, Empire ou CCE. Aliás, por falar em marcas, meus pais compraram uma Colorado RQ e só depois de muito tempo fui descobrir que RQ significava Reserva de Qualidade, que eu não sei o que é até hoje. E não demorou muito e o povo começou espalhar que qualquer coisa que não prestasse ou não funcionasse direito, era logo um CCE – Conserta, Conserta e Estraga!
Contei aqui que no bairro onde minha família mora até hoje, apenas dois vizinhos corajosos compraram TV logo que o sinal chegou aqui na terrinha, lá por volta de 68, graças as peripécias do velhoe talentoso Fernando Alegrini, que entendia tudo de eletroeletrônica. E quem tinha TV em casa naqueles tempos bicudos e rudes, tinha que ter também uma dose extra de paciência com os chamados televizinhos, que não eram poucos e sempre apareciam aos bandos para ver os famosos programas daquela época.
Apesar a imagem em preto e branco, cheia de chuviscos e o som cheio de chiados, as vezes mudo, ver televisão era um senhor programa. Para resolver os problemas de imagem, cada um tinha lá a sua técnica. Lembro que uma das maneiras era colocar um chumaço de Bombril na antena interna que ficava sobre o aparelho de TV. Mas o jeito mais usual era ficar lá fora girando a antena de um lado para outro em busca do tal sinal. Muita gente subia no telhado para fazer esse serviço. Claro, era uma tarefa muito arriscada, mas não tinha outro jeito.
Enquanto lá fora os ‘especialistas” – toda família tinha um que entendia da coisa – se viravam nos trinta tentando resolver o problema da imagem, do lado de dentro, na sala, todo mundo ficava impaciente, dando palpites. Quando se conseguia captar a imagem, era uma festa! A vida era dura,
As famílias se reuniam para ver Silvio Santos, o “Homem do Baú”; Flávio Cavalcanti, e o seu bordão “Um Instante Maestro!”;Manoel de Nobrega, inaugurando “A Praça é Nossa”; Abelardo Barbosa, o Chacrinha, sua famosa buzina, a Terezinha e as Chacretes”; o bom mocismo de J. Silvestre e o seu famoso “O Céu é o Limite”. E tinha ainda a Família Trapo, a novela Direito de Nascer,os famosos e imperdíveis seriados como o Vigilante Rodoviário, Rim TinTin, Ponderosa, Bonanza e tantos outros. Teve também a febre de “Os Reis do Ringue”, e eu era fã do Ted Boy Marino e do Mr. Argentina.
Nessa época era estrondoso o sucesso da Jovem Guarda, nas tardes de domingo no auditório da Record, com gente saindo pelo ladrão. E por lá estava aparecendo gente como Roberto Carlos, Vanderleia, Erasmo Carlos, Vanusa, Martinha, Jerry Adriani, Silvio Brito, Nilton Cesar, Paulo Sérgio, Antonio Marcos, Vanderlei Cardoso, os Vips, Golden Boys, Renato e seus Blue Caps, os Incriveis e uma infindável legião de cantores e cantoras que embalaram as jovens tardes de domingo, no auge da nossa mocidade.
E quem não tinha um vizinho mais abastado ou não tinha TV em casa, não se apertava. Lembro que nessa época, havia na praça da Matriz uma torre cheia de placas de propagandas de lojas do comércio, e lá no meio, um a aparelho de televisão que era ligado sempre que anoitecia e ficava ligado até por volta de dez horas da noite. Também onde funciona hoje a Carioca estamparia, havia a concessionária DKV, onde também havia uma televisão ligada para o povão. Tanto num como no outro lugar, sempre entupia de gente para assistir os programas.
E foi que lá por volta de 1972 surgiu a TV Colorida, um luxo, uma coisa do outro mundo. Lembro que a primeira vez que vi um aparelho desses, foi na casa do José Carlos Pereira, o Tugão, filho do João Pereira (in memorian), da Casa Lusitana. Mas era uma tragédia porque chuviscava ainda mais que a TV em preto e branco. Também foi nessa época que apareceu por aqui umas telas de plástico em degradee, nas cores verde, azul, amarela e vermelha, que se encaixava diante do aparelho e pronto: a TV em preto e branco virava colorida!
O sujeito que teve essa luminosa idéia, dizem, é o atual dono da Colormaq, de Araçatuba.Dizem também, que ele ficou podre de rico vendendo suas telas mágicas.E deve ter ficado mesmo. Todo mundo comprava aquilo.Vai dizer que você também nunca comprou uma dessas telas? Semana que vem tem mais. Até lá.