Será que você ainda se lembra dos antigos Parques de Diversões? Da mesma forma como os circos, de quando em quando eles faziam suas temporadas na cidade, para a alegria da criançada e da juventude daqueles anos dourados. Hoje em dia isso é uma raridade.
Quando ainda era menino, lembro que os parques costumavam se instalar num grande terreno que ficava entre as ruas Rio Grande do Sul e a rua Bahia, com entrada pela antiga Avenida da Estação, que naquele tempo era de terra batida, com um imenso canteiro central cheio de flamboyants. Outro ponto onde eles costumavam se instalar, era ao lado da antiga Sorveteria do Gordo, na famosa Avenida da Brasilândia (hoje Líbero de Almeida Silvares), mas que também era de terra batida com seus imensos e intermináveis areais. E por fim, lá pela metade dos anos sessenta, os parques e os circos se instalavam ao lado da Rodoviária Nova (hoje Mercado Municipal), no imenso terreno que havia na esquina da rua Rio de Janeiro com a antiga Avenida Dois, onde hoje está instalada a Casa de Carnes Big Master.
Nas tardes de domingo, para a alegria da criançada, o programa preferido das famílias, era passear e passar a tarde nos parques de diversões. Lembro que meus pais levavam até meus irmãos menores, ainda de colo. E a gente se contentava com uma volta nos cavalinhos do carrossel, um chumaço de algodão doce, um pirulito e as sodinhas limonada que meu pai conseguia laçar na barraca das argolas.
Tempos depois, já na adolescência, a gente continuava frequentando os parques, mas com os amigos da nossa rua ou do nosso timinho de futebol. Aí a diversão era voar nas cadeirinhas no Dangler, e quanto mais alto e mais veloz, melhor. Lembro que eu tinha um amigo que sempre dizia, que se aquela corrente quebrasse, a gente entraria em órbita e ia ficar dando voltas na Terra, igual os astronautas russos e americanos. Ele era meio cismado com a segurança dos parques, e por conta de sua mania, vivia levantando hipóteses, como “já pensou se um dia a roda gigante disparar?” Ele não deixava de ter razão. Mas que eu me lembre, nunca vi e nem me lembro de um acidente num parque de diversões daqueles tempos.
Nessa fase da juventude, eu gostava de praticar tiro ao alvo nas barracas dos parques, com aquelas espingardas de pressão com chumbinhos, ou as de rolha para derrubar maços de cigarro ou bichinhos de pelúcia e outras bugigangas que colocavam nos tabuleiros. Só valia como prêmio, a peça que caia no pano. As espingardas de pressão com rolhas eram complicadas, avariadas de propósito, claro. Para derrubar o prêmio, era preciso acertar na base do objeto, mas as rolhas mudavam completamente de direção e a gente sempre perdia.
Lembro que certa vez meu amigo Olívio teve a luminosa ideia de colocar tachinhas às escondidas nas rolhas; deu certo, mas também deu errado, porque o barraqueiro descobriu o truque e aí não valia mais, claro. Mas a gente não desistia, afinal devia haver alguma maneira de enganar aqueles trapaceiros. Um belo dia, descobri com meus amigos uma tática infalível. Bastava mirar bem no meio de dois maços de cigarros, cinco centímetros abaixo da direção da tábua onde estavam colocados e pimba: era tiro e queda! Para nossa alegria e desespero do barraqueiro, quase quebramos a banca!
Mas bom mesmo era passear de mãos dadas com a namorada, dar uma volta na roda gigante ou gangorrar nos barquinhos, que alguns chamavam de canoinhas. Alguns parques também tinham o Trem Fantasma ou a Caverna dos Horrores, mas as meninas, claro, não topavam ir junto. Agora ir lá na barraca-trailler e ver ao vivo a transformação da linda mocinha do parque, na horripilante Monga, a Mulher Gorila, nem sonhar. Elas gostavam sim, da Tenda da Sorte, onde sempre havia uma “cigana vidente’ com um turbante na cabeça, que fazia a leitura das linhas das mãos e com sua bola de cristal sobre a mesa, fazia previsões do futuro. Aí era a gente, que caía fora!
Depois do cinema e do footing na praça da Matriz, sem dúvida alguma, os parques eram o melhor lugar para flertar com as mocinhas naqueles tempos maravilhosos. E havia muitos truques para a abordagem para quem queria arrumar namorada. Eram tempos inocentes, mas ninguém bobo e havia estratégias sempre muito bem estudadas, seguindo por etapas. Um deles era o recado, um bilhete como um correio elegante, depois era o arriscado convite para um passeio na roda gigante e ver a cidade lá do alto. Quase sempre funcionava.
Mas havia um que era infalível, tipo tiro e queda. Era o oferecimento de músicas no serviço de som de alto-falantes do parque, onde a gente pagava uma taxa por cada pedido e dedicava um sucesso romântico para a “mocinha loira, dos olhos verdes, de blusa vermelha e saia preta, ofertada com muito amor e carinho pelo rapaz moreno claro, de camisa azul escura e calça Lee desbotada, que está tentando a sorte na barraca de Tiro ao Alvo”. Bons e inocentes tempos aqueles. Semana que vem em mais. Até lá!