RIO PRETO

Mulher que levou dois tiros da mãe e a viu matar o irmão luta por condenação há 21 anos: 'Quero paz'

Mulher que levou dois tiros da mãe e a viu matar o irmão luta por condenação há 21 anos: 'Quero paz'

Luci Fernandes Costa, considerada inimputável desde a década de 90, matou filho de 11 anos, atirou na filha e no marido

Luci Fernandes Costa, considerada inimputável desde a década de 90, matou filho de 11 anos, atirou na filha e no marido

Publicada há 4 anos

Vivian e Milton foram baleados à queima roupa na década de 90 em Rio Preto 


Da redação

O crime foi registrado em 1998, mas as lembranças ainda permanecem vivas na memória de Vivian Amanda Fernandes. Na época com 8 anos, ela foi baleada duas vezes à queima roupa pela mãe e testemunhou ela matar o irmão, atirar no pai e tentar suicídio na casa onde moravam, no bairro Ana Angélica, em São José do Rio Preto.

De acordo com Ministério Público, Luci Fernandes Costa foi denunciada por cometer o crime contra a família. Considerada inimputável, após ser submetida a diversos exames de higidez mental, ela nunca foi julgada.

Sem condições perante a lei para discernir seus atos, o processo encontra-se suspenso até que a ré se restabeleça. No entanto, Vivian contesta os resultados dos últimos laudos periciais sobre as condições físicas e psíquicas da mãe.

Para tentar comprovar que a ré possuí discernimento e deve responder ao processo, que tramita desde a década de 90, ela entregou recentemente ao Ministério Público um vídeo em que Luci aparece lavando a calçada e passando informações sobre as ruas do bairro Boa Vista.

“Tenho certeza que ela está fraudando os laudos. Várias testemunhas entraram em contato comigo e os relatos são bem semelhantes. Inclusive, agora estamos entrando com um processo de fraude processual”, diz Vivian, de 28 anos, que trabalha como corretora de imóveis.

Ao receber o registro feito por um detetive particular, o promotor de Justiça responsável pelo caso, José Márcio Rosseto, solicitou com urgência a realização de um novo exame de higidez mental em Luci.

“Embora fisicamente pareça que ela esteja bem, psiquicamente não podemos afirmar o mesmo. Por via das dúvidas, como a situação dela parece ser diferente daquela que consta no processo, nós pedimos um novo laudo”, diz o promotor.

O pedido feito pelo Ministério Público foi deferido pelo juiz Cristiano Mikhail, que determinou a realização da perícia na casa da acusada com urgência, estipulando o prazo de cinco dias.

Vivian e Luci abraçadas em uma foto antiga — Foto: Arquivo Pessoal

Vivian e Luci abraçadas em uma foto antiga 

Em entrevista, o promotor de Justiça afirmou que, após cometer o crime e atirar na própria cabeça, a ré ficou acamada e passou a usar frauda geriátrica. Os laudos emitidos na época apontavam que o quadro dela era irreversível.

“Pelo vídeo, não é possível afirmar se ela tem ou não condição. O fato dela andar, lavar a calçada ou passar informações sobre as ruas não quer dizer que ela esteja com suas faculdades mentais perfeitas. Mas, se ficar comprovado pelo laudo que ela tem condições, pediremos para o processo voltar a andar”, afirma José Rosseto.

O advogado contratado para representar Luci alega não saber da existência do vídeo entregue por Vivian ao Ministério Público.

"Se realmente há o registro, provavelmente, serei intimado para me manifestar. No entanto, ainda não tive contato com o vídeo e não fui intimado", afirma Odinei Rogério Bianchin.

BARULHOS, SANGUE E SOCORRO

O crime aconteceu na noite de 25 de outubro de 1998, na casa onde a família morava. A corretora de imóveis era a única que estava acordada.

Vivian, que há 21 anos carrega consigo as cenas que presenciou, relembra que a mãe preparou um jantar, mas foi a única a não comer nada. Em seguida, todos foram deitar.

“Eu ouvi um barulho alto e meu pai gritando. Em seguida, minha mãe entrou no quarto e atirou na cabeça do meu irmão, que estava dormindo. Aí ela veio em minha direção, apontou a arma e atirou uma vez. Ao ver que eu não tinha desmaiado, ela atirou no meu peito e eu apaguei”, relembra Vivian.

Minutos depois, Vivian acordou ensanguentada, conseguiu se arrastar até a sala, encostou no sofá e viu a mãe ir até o quarto, onde atirou na própria cabeça.

“Eu pedia socorro e água. Tentei levantar algumas vezes, mas tinha perdido o movimento das pernas. Depois de permanecermos 12 horas agonizando, uma vizinha achou estranho o fato de o carro do meu pai estar na garagem e acionou a polícia”, afirma a corretora de imóveis.

Estudante Adriano Augusto Fernandes Costa não resistiu após ser baleado na cabeça  — Foto: Arquivo Pessoal

Estudante Adriano Augusto Fernandes Costa não resistiu após ser baleado na cabeça 


Ao chegar na casa, policiais militares subiram no muro, viram a família baleada, arrombaram a porta dos fundos e entraram na cena do crime.

“Minha mãe foi encontrada caída com o revólver calibre 32 ao lado. Um policial veio em minha direção e me socorreu usando uma mesa de futebol de botão. Eu lembro de sair de casa, ver meus vizinhos me olhando e de todo o trajeto até o hospital, onde desmaiei”, diz Vivian.

O estudante Augusto Fernandes Costa, que tinha 11 anos, não resistiu aos ferimentos e morreu. Milton Costa Filho, Vivian Amanda Fernandes e Luci Fernandes Costa foram socorridos em estado grave para hospitais de Rio Preto.

Na época, uma carta foi encontrada pela polícia na casa onde a família morava. Nela, segundo Vivian, a mãe escreveu que havia comprado um revólver e cometido o crime para se defender das traições do marido e dos filhos agressivos.

“Pelo que me lembro, ela nos batia muito. Meu pai viajava bastante. Portanto, ele não via o que acontecia conosco. Quando ele voltava para casa, ela não nos agredia. Então, não acredito nas palavras escritas”, relembra Vivian.

Fonte: G1


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