PANDEMIA

Diretora do Instituto Adolfo Lutz fala sobre 1° caso de reinfecção por Covid

Diretora do Instituto Adolfo Lutz fala sobre 1° caso de reinfecção por Covid

Reinfecção ocorreu em uma paciente de 41 anos, de Fernandópolis

Reinfecção ocorreu em uma paciente de 41 anos, de Fernandópolis

Publicada há 3 anos

Bióloga e diretora do Instituto Adolfo Lutz de São José do Rio Preto (SP), Janaina Olher Martins Montanha — Foto: Arquivo PessoalJanaina é diretora do Instituto Adolfo Lutz de Rio Preto - Foto: Reprodução/Arquivo Pessoal

Da Redação/G1

A bióloga e diretora do Instituto Adolfo Lutz de São José do Rio Preto, Janaina Olher Martins Montanha, falou em entrevista ao G1 sobre a importância da pesquisa responsável por confirmar o primeiro caso de reinfecção por coronavírus no estado de São Paulo desde o início da pandemia.

A paciente infectada por duas linhagens distintas do vírus é de Fernandópolis e atua como profissional de saúde. Ela desenvolveu a doença em junho, com resultado positivo em exame laboratorial. Contudo, após se curar, teve nova detecção em novembro, 145 dias após o primeiro diagnóstico. Ambos os exames foram feitos pelo Instituto Adolfo Lutz de Rio Preto.

De acordo com Janaina Montanha, as pessoas que foram infectadas pelo Sars-Cov-2 e conseguiram se recuperar precisam entender que podem ser contaminadas novamente e apresentar um quadro mais agressivo.

“Apesar de casos de reinfecção não serem muito recorrentes, eles existem. Todo cuidado é pouco. Nós vemos grupos de pessoas dizendo que pegaram e não pegarão de novo. Isso não é verdade. O perigo é real. Pode haver outra infecção por uma linhagem mais agressiva, e a pessoa precisar de uma internação.”

Pesquisa

São necessários diversos critérios para se comprovar uma reinfecção por coronavírus. Um deles, por exemplo, é a necessidade de o paciente ter dois resultados detectáveis de PCR em tempo real, com intervalo mínimo de 60 dias. Os materiais genéticos ficam armazenados em um biobanco.

“Cada laboratório segue uma diretriz da instituição para armazenamento das amostras. O estado tem uma nota técnica para biobanco de casos de Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG) e óbitos. Essas amostras, obrigatoriamente, quando positivas, tem de ser encaminhadas para o biobanco do estado. As amostras de síndrome gripal, como foi o caso da moradora de Fernandópolis, podem ficar armazenadas no laboratório local.”

O Centro de Vigilância Epidemiológica (CVE) é o responsável por receber informações de um possível caso de reinfecção, fazer um estudo mais aprofundado e definir se haverá ou não uma investigação. A partir do momento que o órgão diz que será investigado, é feito um resgate para as amostras serem enviadas a São Paulo.

Segundo a diretora do Adolfo Lutz de Rio Preto, o Laboratório Estratégico do Instituto Central, localizado na capital paulista, fez o sequenciamento do genoma completo e identificou que se tratam de duas linhagens distintas do vírus, o que pode justificar a reinfecção.

Uma delas foi constatada exclusivamente no Brasil, e a outra já identificada tanto no Brasil quanto nos Estados Unidos, Reino Unido, Austrália e Chile, conforme sequências comparadas com o banco de dados online e mundial Global Initiative on Sharing All Influenza Data (GISAID) – Iniciativa Global de Compartilhamento de Todos os Dados sobre Influenza, em tradução livre.

Até o momento, quatro possíveis suspeitas de reinfecção por coronavírus foram informadas na região. Três já foram descartadas porque não testaram positivo em testes preliminares nas duas amostras.

“Essa foi a única amostra, dentre as quatro que encaminhamos para testagem, que foi positiva nos pares e sequenciou o genoma.”

Importância

De acordo com Janaina, fazer parte da pesquisa que comprovou o primeiro caso de reinfecção por coronavírus no estado de São Paulo foi gratificante.

“Por mais que falamos que o vírus está há um ano no país, ainda não temos nada de muito concreto, nem sobre a imunidade, nem sobre quanto tempo ela dura. A partir deste estudo, a gente comprovou que uma pessoa pode ser reinfectada por uma linhagem distinta”, disse.

“Isso também é importante, porque, como vemos que a linhagem está no Brasil, no Reino Unido, Austrália e Chile, conseguimos acompanhar o curso da pandemia e ver aonde as linhagens estão distribuídas. Para ter a detecção, as pessoas precisam circular e uma transmitir para outra”, complementou.

De acordo com a diretora Instituto Adolfo Lutz de Rio Preto, houve um aumento na demanda de exames e, consequentemente, resultados positivos para Covid-19.

“Estamos atendendo outras regiões do estado também. Estamos vendo que a positividade vem subindo de forma mais rápida do que a primeira vez. Temos que tomar cuidado. A pandemia ainda é real.”

1º caso de reinfecção no Brasil

O primeiro caso de reinfecção no Brasil foi confirmado no último dia 9 pelo Ministério da Saúde em uma médica de 37 anos que mora em Natal e trabalha também na Paraíba.

A identificação do caso foi feita pelos governos do Rio Grande do Norte e da Paraíba, que usaram o método da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) por sequenciamento genético, que confirmou que a mulher foi infectada por duas linhagens diferentes do vírus.

O caso estava sendo investigado desde o dia 23 de outubro, data em que o Centro de Informações Estratégicas de Vigilância em Saúde do RN (CIEVS-RN) recebeu a notificação sobre a suspeita.

A primeira infecção dela aconteceu em junho. Após apresentar um quadro de síndrome gripal (cefaleia, dor abdominal e coriza) no dia 17, a paciente realizou o exame RT-PCR na Paraíba em 23 de junho.


Fonte: g1.globo.com

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