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'O câncer foi o meu maior professor', declara jovem que venceu a doença

'O câncer foi o meu maior professor', declara jovem que venceu a doença

A estudante Larissa Galana Bergamasco pretende compartilhar sua história de superação para ajudar outras pessoas

A estudante Larissa Galana Bergamasco pretende compartilhar sua história de superação para ajudar outras pessoas

Publicada há 7 anos

 Livia Caldeira Larissa durante o período de tratamento



"Agradeço ao câncer, ele foi o meu maior e melhor professor". Com essas palavras a estudante de biomedicina Larissa Galana Bergamasco, 18 anos, define a doença que a acompanhou durante muito tempo. Em maio de 2011 ela foi diagnosticada com leiomiossarcoma, um tumor maligno (câncer), imprevisível e raro. Modelo, integrante do time de vôlei juvenil de Fernandópolis, melhor aluna da sala, cheia de sonhos e com apenas 11 anos de idade, ela conta que não foi fácil receber a notícia na época. "Nós achamos que isso nunca vai acontecer com a gente. Eu não conseguia acreditar que logo eu estava dentro da estatística de 0,1% de chance de ter uma doença rara como essa", relembra. A fase de revolta e não aceitação durou pouco, logo ela se deu conta de que era preciso ser forte para enfrentar a situação. "O câncer me tirou muitas coisas, tirou parte da minha adolescência e confesso que por muito tempo tirou até os meus sonhos, mudou meu corpo e minha cabeça. Mas nunca tirou minha vontade de viver". Em entrevista ao "O Extra.net", Larissa conta a sua trajetória de luta e superação para vencer a batalha contra o câncer. Ao compartilhar sua história, ela espera apoiar e ajudar outras pessoas em situações parecidas.


O EXTRA: Quando você descobriu a doença?

LARISSA: Foi no dia 24 de maio de 2011. Eu tinha 11 anos. Era uma menina muito ativa e cheia de sonhos. Lembro-me que era uma fase muito boa da minha vida. Eu era uma aluna exemplar, estava começando na carreira como modelo, jogava vôlei no time da cidade, adorava sair e tinha muitos amigos. O câncer veio do nada, sem apresentar nenhum sintoma e começou a roubar todos os meu sonhos.


O EXTRA: Como você descobriu o tumor?

LARISSA: Sempre fui muito observadora. Eu estava em casa um dia, de frente para o espelho, quando notei um pequeno 'carocinho' na região do tórax. Não dei muita importância, pois não tinha dor e não me incomodava. Mostrei para minha mãe, que pensou que fosse uma picada de algum inseto. Mas os dias foram passando e o 'caroço' foi aumentando e começou a doer. Foi então que decidi ir ao médico para ver o que era. A princípio me disseram que não era nada de grave, tratava-se de um cisto sebáceo que precisava apenas ser retirado. O médico me disse que era pra eu ficar tranquila, pois a chance de ser um tumor maligno era muito pequena, inferior a 1%.  Mas após vários exames, veio o diagnóstico: leiomiossarcoma, um câncer raro e muito agressivo.


O EXTRA: Como foi sua reação no começo?

LARISSA: Eu não aceitava o que estava acontecendo. Me perguntava todos os dias "Por que comigo? Por que eu?". Perdi minha fé em Deus e fiquei revoltada. Não entendia o sentido de tudo aquilo que estava acontecendo comigo.


O EXTRA: Quando você passou a aceitar o que estava acontecendo?

LARISSA: Eu evolui muito nesse período. Depois da fase de revolta, que é normal no começo, eu comecei a enxergar tudo com um outro olhar. Repeti pra mim mesma que eu era mais forte que essa doença. E comecei a transformar a minha dor em luta. Mas só tive certeza da existência de Deus novamente quando realizei a segunda cirurgia. Eu estava com alguns nódulos no pulmão também e os médicos disseram que teriam que retirar minha costela. Eu estava com 12 anos. No dia do procedimento eu disse a minha mãe que havia conversado com Deus e ele me garantiu que não seria preciso mexer na minha costela. E assim aconteceu. A cirurgia, que estava prevista para durar mais de doze horas, durou pouco mais de três. Os médicos saíram do centro cirúrgico e disseram para a minha mãe que um milagre tinha acontecido. Nenhum dos especialistas sabia explicar o que tinha acontecido naquele dia.


O EXTRA: O que mudou na sua vida depois disso?

LARISSA: Tudo. Minha rotina, a rotina da minha mãe. Ela deixou o trabalho e a vida dela de lado e passou a viver a minha. Eu reconheci a importância da família e percebi que eu não tinha tantos amigos como pensava. Eu vivia no hospital, fazia exame atrás de exame... O câncer estava roubando a minha adolescência e, embora eu tivesse retirado o tumor, ele poderia voltar a qualquer momento. O medo sempre estava presente comigo.


O EXTRA: Existia a possibilidade de reincidência?

LARISSA: O câncer pode voltar a qualquer momento e mais forte do que antes.

Há dois anos, por exemplo, fui diagnosticada com Neoplasia, um tumor na região do cérebro. Eu tive que escolher entre retirá-lo ou conviver com ele. A cirurgia seria muito arriscada e as probabilidades de eu sair de lá com danos graves permanentes eram altas. Assim escolhi não realizar o procedimento. Já se passaram dois anos e continuo fazendo exames e acompanhamento médico frequente.


O EXTRA: O que significa vencer o câncer para você?

LARISSA: Hoje acho que finalmente eu entendi qual o real sentido da frase "eu venci o câncer". Não significa cura, não significa vida normal ou como era antes. Significa descobrir uma força imensurável que vem não sei de onde e transborda não sei pra quem. Significa aceitar que as coisas quase nunca são como a gente gostaria, da forma mais resiliente possível. Vencer o câncer pode não significar continuar vivo, mas ter a sabedoria intransponível de ver a vida indo enquanto se quer ficar. É conseguir consolar os outros pelo medo da sua própria partida. Vencer o câncer é se transformar, é ter orgulho da sua própria batalha, é poder bater no peito (natural ou reconstruído) e dizer "dói, dói demais, mas eu tô aqui, vivendo, querendo, sentindo, amando". Vencer o câncer é ter fé no invisível, acreditar que tudo isso vai sim passar e que por pior que seja, é preciso seguir. Nessa batalha não existe derrota porque a vitória é sempre certa quando se acredita nela. Sem pódio, medalhas ou louros, vencer o câncer é renascer pra uma vida que vai muito além da onde o olho enxerga.


O EXTRA: O que você aprendeu com tudo isso?

LARISSA: Eu aprendi muito. Hoje eu sou outra Larissa. Sou mais humana, mais humilde e muito mais forte. Aprendi a não dar importância a problemas pequenos, antes considerados grandes.


Muitos odeiam o câncer, mas eu, na verdade, o amo! Por que?! Porque ele me ensinou a ser forte, me ensinou a ser uma pessoa melhor e me ensinou o valor da vida! O preço dele é alto, preço esse que eu estive disposto a pagar. Sacrifiquei e sacrifico muitas coisas por ele, por sua causa. Mas ele foi meu maior PROFESSOR. Algumas coisas não mudaram... Ainda continuo contando os dias, as horas, os segundos... Cada vez que tenho que receber resultado de algum exame, mas sempre dizendo para eu mesma "Que mundo lindo", pois onde Deus começa a agir ele não deixa nada pela metade, ele vai ate o fim.


Antes eu me perguntava o "porque" de tudo isso. Hoje eu me pergunto o "Para que". Para que o câncer me deixou viver? Para que ele me deu uma segunda chance? Para que ele foi tão bom comigo e não foi com os outros? Ele me deu uma missão, ele me deu o poder de sonhar novamente e ter uma esperança de viver. De vencer. Sem dor não há vitória. Sim! Eu venci! Com muita dor, eu confesso. Mas aqui estou e essa dor se tornou a razão da minha vida. Essa dor, sou eu hoje... VITORIOSA!

Larissa,aos 11 anos, posa para foto em um trabalho como modelo. No mesmo ano, aadolescente recebeu o diagnóstico de câncer

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